sábado, 14 de fevereiro de 2009

Carnaval - António Feliciano de Castilho (1843)


O d'este anno, a despeito do rigor da estação, que só no terceiro dos tres dias solemnes deixou ver o sol, foi abundante de feijões e tremoços, representações, bailes, e mascaras.

A generalidade de taes dispendios populares (observa um philosopho) é sempre um symptoma de pobreza. A nossa já não carecia de taes provas para ser conhecida.

Em geral, duas coisas podémos observar n'este entrudo: os brincos selvagens passaram de moda, mas o bom gosto na escolha dos divertimentos não se tem apurado. Os nossos mascarados são, com pouquissimas excepções, insignificantes autómatos, que dizem pouco, e não significam nada. Tomam uma mascara e qualquer vestido que não seja o seu, e com isso teem satisfeito a sua consciencia de carnaval.

O baile mascarado de S. Carlos esteve deploravel nas duas primeiras noites; na terceira concorreu gente bastante, e os disfarces chegariam a cento e cincoenta.

O sahimento do entrudo ao bater da meia-noite foi espancado e corrido com tal pateada, que os da comitiva se tornaram sem o haverem podido enterrar. Com rasão. A parodia da coisa mais solemne e tremenda do mundo é abominavel n'uma festa. Os cantos e trajos da Egreja, atraz de um pendão com cruz e caveira, precedendo a um esquife com um mono dentro, é uma tão insensata e semsabor impiedade, que devem para sempre desterral-a.

Outro tanto dizemos dos habitos religiosos, com que alguns mascarados andavam promovendo o já pleonástico desprezo das coisas da Egreja, na hora mesma que precede ao dia das cinzas, na entrada do tempo da penitencia!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

E o tempo parece não andar reto por onde caminho
As cores desbotam, não vibram
O sol aparece quando devia fimbar

As palavras fogem. Queria transbordar
O silêncio. O desencontro. E só.
O desejo desmaia, o ascender não vem

Tudo me escapa.

Giselle Veiga
(19/jan/2009)