domingo, 4 de maio de 2008

Para minha irmãzinha...


"Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do acaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas."

(Manuel de Barros, O livro das ignorãças)

3 comentários:

Gustavo disse...

gostei bastante do texto.
logo logo e o livro habita aqui em casa também.

Juliana Veiga disse...

brigada, coisa mais linda! rs

Adorei esse mesmo, a última frase é muito boa! qq dia, escrevo isso em algum lugar!

e é bem dos nossos, né não! rs

Bjão

Caroline Tavares disse...

"A minha independência tem algemas" é maravilhoso!
Talvez toda independência tenha. Bauman fala que não dá pra ter liberdade e segurança ao mesmo tempo, acho que tem a ver com isso, mas é bem menos poético.