domingo, 31 de agosto de 2008

"Imagino que nenhum idiota jamais tenha negociado a alma com o diabo: o idiota é idiota demais, ou o diabo diabólico demais - não sei qual dos dois. Ou você pode ter um espírito tão magnificamente elevado que se mostrará totalmente surdo e cego a tudo que não sejam visões celestiais. Nesse caso, a Terra, para você, é só um lugar de passagem - e não me atrevo a dizer se representa uma perda ou um ganho ser assim. Mas a maioria de nós não é nem de um modo nem de outro. A Terra, para nós, é um lugar onde vivemos, onde precisamos nos habituar às visões, aos sons, e aos cheiros também [...] E é aí, não vêem, que a força de vocês intervém, a fé na sua capacidade de cavar buracos discretos para neles enterrar as coisas - o seu poder de devoção não a si mesmos, mas a um trabalho obscuro e exaustivo. [...]"

(Coração das Trevas - Joseph Conrad)

terça-feira, 19 de agosto de 2008

"Bonito dia para se morrer", pensei ao olhar a bola amarela que manchava o céu azul. Mais adiante, depois de ter dado cabo das pequenas obrigações diárias, meus olhos pararam em uma senhora. Era magrinha, cabelos branquíssimos, semi-presos com grampos. Andava devagarinho...cautelosamente. Suas frágeis mãos pareciam tatear o ar quente que flutuava pelo dia.
Não sei porque motivo ela me chamou a atenção. Talvez por eu ter sonhado com minha bisavó na noite anterior ou ainda por gostar de me deparar com velhinhos...eles me transmitem um conforto e me despertam uma compaixão incríveis. Sem mencionar a saudade gostosa que sinto daquilo que não vivi...
Diminui o passo a fim de acompanhar, por mais alguns instantes, aquela senhora. Tentei imaginar como seria seu rosto...Mas, ao me lembrar dos outros compromissos do dia acelerei as passadas e ultrapassei a velhinha. Não quis olhar para trás para descobrir suas verdadeiras feições. Preferi guardar na minha memória o esboço imaginário daquele rosto, assim como guardo a saudade do tempo que não vivi.
Atravessei a rua. Estava vazia, como se todos estivessem se esfumaçado no espesso ar quente...nenhum barulho. Uma paz grandiosa dominou a rua, o dia...e ela era tão forte e tão palpável que foi preciso cerrar os olhos para sentí-la inteira...saboreei aqueles segundos como se fossem os últimos da minha vida. Não! como se fossem os últimos segundos do mundo. Tive a certeza de que todos sentiam o mesmo que eu...O tempo passava mais lento.
Bonito dia para se morrer...

domingo, 17 de agosto de 2008

Chama, chuva, saudade.
Alegre pensamento
Disfarce.
Fotos maculadas.
Visão distante
Distrações forçadas.

Caminhando, correndo,
de volta às raízes
Terra, reverso.
Eu confesso no fim.


Giselle Veiga, Gisele Valle, Thiago e Monique
(9/11/2006)

domingo, 10 de agosto de 2008

Balões Coloridos...(Música:"Palhaços" - Egberto Gismonti)

Para as crianças grandes que andam por aí...

"[...] Pegar um livro e abri-lo contém a possibilidade do fato estético. Que são as palavras impressas em um livro? Que significam esses símbolos mortos? Nada, absolutamente. Que é um livro, se não o abrirmos? É, simplesmente, um cubo de papel e couro, com folhas. Mas, se o lemos, acontece uma coisa rara: creio que ele muda a cada instante".

(Jorge Luis Borges/1978)