sábado, 30 de maio de 2009

(...)
- Não quero pousar mais, só repousar.
E olhou para cima. O céu parecia baixo, rasteiro. O azul desse céu era tão intenso que se vertia líquido, nos olhos dos bichos.
Então, o flamingo se lançou, arco e flecha se crisparam em seu corpo. E ei-lo, eleito, elegante, se despindo do peso. Assim, visto em voo, dir-se-ia que o céu se vertebrara e a nuvem, adiante, não era senão alma de passarinho. Dir-se-ia mais: que era a própria luz que voava. E o pássaro ia desfolhando, asa em asa, as transparentes páginas do céu. Mais um bater de plumas e, de repente, a todos pareceu que o horizonte se vermelhava. Transitava de azul para tons escuros, roxos e liliáceos. Tudo se passando como se um incêndio. Nascia, assim, o primeiro poente. Quando o flamingo se extinguiu, a noite se estreou naquela terra.
Era o ponto final.
(...)
(In.: O último voo do flamingo, de Mia Couto)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Ontem, nuvem colorida
Chuva fina macia
Risada amarga

Sentidos dispersos feito
Nuvem cinza
Ontem...

Hoje sem nuvem
Girassol colorido
Amarelo amargo

Fumaça, sou eu.
Mudança do passado.
Passado. Passado...

Giselle e Caíque
(7/5/2009)

terça-feira, 5 de maio de 2009

Para Ju, irmã gêmea de corpo, alma e coração.
Para Laura, muito mais que professora... amiga.
Para Neto, com amor e saudade.
Hoje fiz um bolo de fubá.
Queria acalentar o mundo
E cantar para ninar...
Às vezes não sei bem como fazer
Por isso talvez atropele as coisas
E acabe por invadir o espaço que não é meu...
Mas invado sem querer
Feito fumaça e cheirinho de erva doce.
Por isso hoje eu fiz um bolo de fubá.
Queria acalentar o mundo
E cantar para ninar...
Giselle Veiga
(3/5/09)